sábado, 4 de janeiro de 2020

Procissão (parte3)

rocissão  (Parte 3) Do céu, todos avistaram, ao longe, um extenso e cortante raio que ligou com suas retas geométricas a terra e o céu. O som do trovão foi silencioso, mas se aproximava cada vez mais a tempestade. Como todas as embarcações retornaram na procissão, toda colônia estava tranquila. Bem diferente da ocasião em que, Salomão, o pescador mais experiente do grupo foi levado por aquela intensa e inesquecível tempestade. Todos, protegidos cada um a sua maneira, aguardavam que seu barco, como em todas as viagens, retornasse junto com os demais. Esperavam um milagre, o que não ocorreu. Naquele dia o Netuno, o barco do Salomão, afundou e pereceu. Além dele dois ajudantes também não retornaram e jamais foram encontrados. O que traumatizou ainda mais a todos.. Aquela tempestade, incomum, foi mais um indício das alterações climáticas. Os estragos causados foram imensuráveis. Parecia algo sobrenatural a velocidade e a fúria daquela ventania. O volume pluviométrico da chuva superou todos os registros anteriores e mais, a duração da tormenta também surpreendeu. Aquele dia ninguém na colônia esquece. E por isso a cada anúncio de tempestade a preocupação só aumentava. Bira, ao sentir o aconchego daquele abraço tão apertado de Bia por um instante esqueceu sua preocupação. Todo aquele corpo que parecia esconder o seu servia como um acalento. Ela, um pouco mais alta e mais forte que ele, mulherão e muito bonita, era o que diziam os homens que a conheciam, o que sempre servia de comentários especulativos e provocativos. Bia que quase nunca deixava de usar seus turbantes coloridos nesta tarde exibia seu longobcabelo negro e encaracolado. Brandão, como em outras ocasiões provocou de novo: _O que foi que esse mulherão viu nesse magrelo? É muita areia pra essa carroça, kkkk! Barbudo, de imediato respobdeu: _ Para com isso, ela viu nele o que não encontrou em ninguém, é difícil entender isso? Deixa os dois em paz. Ubirajara, durante aquele abraço, voltou a lembrar o dia em que teve a certeza de que aquela era a mulher da sua vida. Ambos estudavam no mesmo ginásio e na mesma classe e começaram a trocar os primeiros beijos e carícias sempre que possível. Certa vez, conseguiram se desvencilhar do grupo de colegas e foram conversar nos fundos do Colégio onde não havia curiosos, apenas árvores  e um jardim. No meio do diálogo, ele, tomou coragem e desabotoou bem devagar sua blusa. Ao terminar, ficou por segundos observando seu lindo colo e..., olhou pra ela e perguntou: _Eu posso? Ela logo respondeu: _É todo seu, você pode tudo. Bira, hipnotizado e sem saber o que fazer, voltou a fechar um a um os botões  e em seguida a beijou longamente. Bia, então com doze anos, dois a menos que Bira, surpreendeu com sua firmeza e maturidade. A partir deste momento dicidiu que aquela era a mulher da sua vida. Dona Dinda, agradeceu pelo retorno de todos, enfim, passava a sua frente a última embarcação da procissão, era Jeremias que também agradecia a bênção recebida da madrinha. Ele conduzia o Netuno filho, uma homenagem à Salomão, seu irmão. Seu José, que vigiava quase todos os barcos, perguntou a cada um dos pescadores que desembarcava se na segunda feira voltaria na próxima procissão, e todos responderam que sim,exceto Dinho e Tadeu . Por vezes, alguns preferiam não embarcar na segunda e era necessário organizar a saída dos barcos. Tadeu, estava muito contente pela pescaria farta de robalos e avaliou que na segunda não precisava acompanhar a próxima procissão. Os cestos e os reservatórios também guardavam outras espécies de peixes, o que totalizou quase setenta quilos. Agora, ele só pensava no treino amanhã pela manhã, para o jogo decisivo, domingo. A revanche solteiros x casados.  As torcidas de cada lado já estavam preparadas. Faixas, fogos de artifício, bandeiras e coreógrafia.  Todo fim de ano uma surpresa era apresentada pelas torcidas organizadas. E neste ano não seria diferente. Dona Dinda estava muito feliz ao abraçar seu afilhado querido. Tinha um carinho todo especial por Dinho. Ele, o caçula de sete irmãos, cinco meninas e dois meninos. Entre todos, o único a não continuar os estudos. Seus irmãos, mesmo formados, não deixavam de se especializar, cada um na sua área. Ao menos uma vez por ano, participavam de eventos regionais, nacionais ou internacional.  E tudo começou com a abnegada dedicação de sua mãe, Dona Ziza, irmã de sua madrinha, que lavava e passava roupa para seis famílias a fim de complementar a renda do marido e ajudar as irmãs mais velhas, Dora e Dinha, as primeiras que concluíram o ensino superior. Dinho, por sua vez, decidiu seguir os passos do pai pescador. João, o barbudo, cabisbaixo e pensativo, se preparava para a negociação com o dono da peixaria. Precisava negociar da melhor forma possível sua divida, pois outros compromissos o inquietavam. Na segunda feira, outra procissão de ida...

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